segunda-feira, 12 de março de 2012

O FUTURO DA AUTOMAÇÃO RESIDENCIAL

O mercado

Será que finalmente as "casas inteligentes" farão parte de nossa rotina? As mudanças no comportamento do consumidor e a chegada de novas tecnologias convergentes e conectadas estão, aparentemente, fazendo com que as pessoas passem mais tempo em suas casas e também utilizando seus "gadgets", aproveitando, entre outras coisas, a sua mobilidade e interatividade. Um cenário perfeito para a indústria da automação residencial decolar de vez.
Num passado recente, as tecnologias domésticas ainda assustavam, tanto pelo seu custo como pela dificuldade de uso.
O advento, entre outras soluções, dos tablets e dos smartphones abriu novos horizontes de utilização para os usuários domésticos. Ao utilizarem estes produtos para finalidades tão diferentes como se comunicar, ouvir músicas, criar vídeos e outras, controlar a casa passou a ser apenas mais uma das facilidades disponíveis. Além disso, a ampla oferta de banda larga e de redes sem fio facilita ainda mais estas aplicações, extensíveis a qualquer ambiente da casa ou até das cidades.
Assim, direta ou indiretamente, a criação de um estilo de vida mais conectado esta trazendo muitos moradores para o mercado de automação residencial também. Algumas estatísticas recentes dão conta que em 2012 serão comercializados globalmente 1,8 milhões de sistemas e a previsão para 2016 e de 12 milhões. Confirmados estes números, com certeza teremos dentro de cinco anos um mercado totalmente amadurecido.
Nos últimos anos, o mercado de automação residencial se baseou muito em projetos para novas residências, o que limitou de certa forma seu crescimento e abrangência. Estudos atualizados mostram que esta tendência está mudando, ainda lentamente, mas com indicadores firmes. No mercado norte-americano, por exemplo, hoje 60% dos projetos já estão voltados a imóveis existentes que passam por reformas e atualizações e apenas 40% são representados por projetos de novas residências. Antes da crise de 2009, cerca de 90% dos projetos eram voltados a novas edificações. Este panorama vem mudando inclusive devido ao surgimento de soluções sem fio
bastante confiáveis e simples de instalar e programar. Com a consolidação deste
mercado, novas oportunidades vão surgir referentes à manutenção e re-programação
de sistemas, um negócio pouco viável no dia de hoje em função de um parque
instalado ainda não significativo.
O Brasil, diversas construtoras estão apostando no diferencial representado pela introdução da automação residencial em seus projetos. E esta característica do nosso mercado ajuda a criar potenciais consumidores em um futuro bem próximo. Ao receberem seus novos imóveis com algum tipo de tecnologia já embarcada, ou pelo menos preparado para recebe-Ia, os moradores estarão mais propensos a investir em sistemas de automação e usufruírem deles desde a ocupação inicial da moradia.
Novas demandas
Além dos benefícios já conhecidos representados pela automação residencial, ligados aos aspectos de conforto, segurança, lazer e conveniência, espera-se, num futuro muito próximo, o crescimento acelerado dos outros, ligados a eficiência energética e à sustentabilidade. Alguns destes temas já foram tratados em capítulos
anteriores, mas a ênfase vai aumentar ainda mais a partir de novas regras que estão surgindo. No Brasil, recentemente, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já criou dispositivo legal que vai obrigar as concessionárias de energia a cobrar tarifas diferenciadas dos consumidores para fornecimentos de energia fora dos horários de pico de demanda. Esta medida, já usual em muitos países desenvolvidos, trará um novo benefício, representado pela redução no valor da conta de consumo. Para aproveitar deste benefício, consumidores em geral terão que escalonar o usa de seus equipamentos elétricos e eletroeletrônicos para aproveitar os períodos onde a energia será mais barata. Uma aplicação ideal para sistemas automatizados, ligados aos medidores inteligentes, que poderão maximizar a eficiência no uso da energia na pratica sem a necessária intervenção do morador.
Esta situação também nos leva a antever uma possível participação maior de concessionárias de serviços (seja de energia ou telecomunicações) no mercado de automação residencial. Como estas empresas já tem normalmente um elo com o consumidor doméstico, poderão, em breve, oferecer uma gama maior de serviços e mesmo de bens sob a forma de comodato. Alguns exemplos de equipamentos já existentes seriam os smart meters(medidores inteligentes de consumo) e modens de internet. No entanto, a oferta de serviços inovadores tem uma amplitude ainda maior e depende apenas da capacidade e do interesse das concessionárias em abordar este mercado.
Da mesma forma, também provedores de serviços atuais podem se candidatar a ampliar sua oferta. A migração de dados para a "nuvem" (cloud computing) é uma das possíveis tendências da automação residencial que começa a ser investigada. Servidores de maior capacidade, externos a residência e pertencentes a provedores, poderão ser utilizados para simplificar os equipamentos domésticos, fazendo o processamento dos dados na nuvem. Se as empresas de AR se interessarem em desenvolver e instalar estes equipamentos mais "Ieves" nas residências,
aproveitando a arquitetura de servidores disponíveis na rede mundial como apoio, uma nova geração de aplicativos com certeza surgira com grandes chances de se prevalecer no mercado.
Também já discutimos o uso cada vez mais intenso de sistemas de monitoramento a distancia utilizados não apenas para segurança patrimonial como também para acompanhar a saúde dos moradores e suas necessidades especiais (de crianças, deficientes ou idosos, por exemplo).
A partir deste tipo de utilização, também prevemos o surgimento de diversos
serviços inovadores que vão desde "cuidadores à distância" até a entrega em domicílio de bens e serviços resultantes de comandos automáticos dos sistemas de supervisão (caso, por exemplo, de medicamentos, consultas médicas, serviços de enfermagem, de exames laboratoriais e similares, manutenções preventivas e corretivas).
O entretenimento doméstico também passa por uma grande transformação. O crescente abandono das mídias físicas, como CDs e DVDs, substituídos por media centers que armazenam grandes quantidades de arquivos (músicas, vídeos, fotos, entre outros) e a rápida introdução de conteúdo interativo representado por novas modalidades de jogos eletrônicos e de canais de TV assinados estão alterando não só os equipamentos e softwares utilizados como o próprio espaço físico das casas. Novos conceitos de armazenar e distribuir áudio e vídeo pelos ambientes domésticos implicam
projetos mais arrojados e bem resolvidos e, principalmente, à prova do futuro, pois devem ser capazes de acompanhar a evolução tecnológica por muito tempo sem a necessidade de reformas ou intervenções na moradia.
O mote da mobilidade tem ajudado muito o desenvolvimento da automação residencial. Moradores podem controlar seus equipamentos domésticos enquanto transitam pelos diversos ambientes e, logicamente, também de fora da residência. Controles estáticos, como telas de toque fixadas na parede, estão perdendo terreno rapidamente para tablets econtroles remotos universais pela facilidade que estes últimos representam.
Paradigmas
Muito se discute sobre a criação cada vez mais intensa de soluções plug & play, ou seja, o usuário comum poderá instalar e programar seus equipamentos sem a necessidade de recorrer a profissionais especializados. Em algumas categorias, isto vem ocorrendo com mais intensidade, como é o caso de aplicações de jogos eletrônicos, áudio e vídeo.
Sistemas mais elaborados, como segurança e iluminação, ainda estão longe de serem considerados plug & play, pois normalmente demandam a participação de diferentes profissionais para obter resultados satisfatórios. Isto inclui desde arquitetos a consultores especializados, cabendo ao profissional de automação a tarefa de integrar o resultante destas atividades em um projeto harmonioso e eficiente. Esta é uma tendência que, acredita-se, ainda deve perdurar por muito tempo, mesmo que sistemas mais intuitivos sejam criados com a finalidade de facilitar o acesso dos moradores à tecnologia.
A unificação de protocolos de comunicação também é citada muitas vezes como uma necessidade, a fim de tornar os sistemas interoperáveis. Sem duvida, uma linguagem universal facilitaria muito o trabalho de integração e possivelmente tornaria as soluções ainda mais viáveis em termos de custo final. No entanto, barreiras comerciais e tecnológicas se impõem ainda no mercado e tornam este aradigma difícil de ser quebrado.
Houve evolução neste cenário, logicamente. A utiIização, por exemplo, de plataformas IP, comuns a diversas interfaces, e o desenvolvimento de múltiplos aplicativos simples de baixar e utilizar ajudam a superar algumas destas dificuldades para o usuário comum. No entanto, em médio prazo, ainda será necessário fazer a integração de equipamentos de diferentes origens e fabricantes por meio de interfaces e softwares específicos, desenhados e desenvolvidos pelos integradores profissionais.
Uma dose de futurismo
Certas tecnologias ainda pouco utilizadas na automação residencial, tais como GPS e RFID, podem passar a fazer parte do cenário em breve. Projetos conceituais desenvolvidos em centros de referencia mundiais estão pesquisando os hamados "ambientes inteligentes", bem como a "internet das coisas", dois conceitos inovadores e recentes. Um dos objetivos é desenvolver meios de controle utilizando sensores, comunicação sem fio identificação por radiofrequência (RFID) e GPS para observar o comportamento dos moradores e fazer escolhas automáticas baseadas nos padrões detectados. A intenção é sempre tornar ainda mais intuitivas e amigáveis as
interações dos moradores com os sistemas de controle e comando.
Este tipo de tecnologia, aliada à presença de computação pervasiva, ou seja, uma grande quantidade de processadores e chips nos rodeando, promete também situações de grande interatividade. Um sistema baseado nestes conceitos pode fazer com que Imagem de monitores "sigam" os moradores pela casa, apresentando as condições
climáticas e do transito enquanto ele se troca ou toma o café da manha.
Checando o extrato bancário e sugerindo uma lista de compras para o dia, depois
de verificar o estoque de suprimentos da casa. Alguns gestos podem ser captados
por microcâmeras que identificam as necessidades traduzidas nestes gestos e preparam
cenários diferentes conforme a situação reportada.
Ficção? Nada disso! Com certeza já dispomos de tecnologia para construir este tipo de solução. 0 que é preciso é torna-Ias mais baratas e fáceis de se instalar e se manter, um desafio e tanto para os próximos anos.

Por José Roberto Muratori e Paulo Henrique Dal Bó

Artigo da revista O Setor Elétrico edição 71 dezembro 2011.

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