quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Capacetes: úteis ou incômodos ?


Capacetes são feitos geralmente com polietileno de alta densidade ABS,outros materiais incluem resinas prensadas com tecidos (celeron), fibra de vidro com poliéster ou ligas de alumínio são os materiais empregados no casco, embora os capacetes de metais não devem ser usados para trabalhos elétricos devido aos riscos de choque.
Capacetes não são simplesmente para proteção de cabeça. ele pode proteger contra impactos toda a parte superior do corpo, como face total, pescoço, ombros, parte superior do tórax e costas superior.pois um sistema de suspensão dentro do capacete absorve o golpe quando um objeto atinge o capacete.

Capacetes classe “A” são para aplicações industriais gerais, incluindo manufatura. Eles não fornecem proteção significativa contra acidentes de origem elétricas.

Capacetes classe “B” garante toda a proteção da classe “A” com a proteção adicional contra choques elétricos.

As classes se subdividem em: aba total (Tipo I), aba frontal (Tipo II), Sem aba (Tipo III)
 

(Tipo I) Com aba total
Protege todo o perímetro da cabeça e o rosto, é indicado para proteger de escorrimento de líquidos, de contatos com energia elétrica e radiações solares. São usados em setores como a indústria siderúrgica e elétrica.

 

(Tipo II) Com aba frontal
É indicado para atividades onde o risco de bater a cabeça é maior do que ser atingido pela queda de objetos.
Protege o rosto e os olhos de escorrimento de líquidos, de contatos com energia elétrica e radiações solares. São usados na construção civil e em serviços de manutenção.

 

(Tipo III) Sem aba
Este tipo de capacete é usado principalmente na realização de esportes e em trabalhos restritos, que exigem proteção dos impactos apenas na região da cabeça. Praticantes de alpinismo e trabalhadores de áreas florestais usam este tipo de capacete.
O capacete de segurança reduz os efeitos de impactos de objetos na cabeça e diminui a possibilidade de ferimentos. É composto pelo casco e pela suspensão. A suspensão tem a carneira, em geral, de polietileno de baixa densidade, e coroa, do mesmo material ou de tecido. Existe a tendência de o mercado oferecer maior conforto ao usuário, como é o caso do uso de suspensões com ajustes tipo catraca, coroa flexível, uma tira de absorção de suor facilmente removível e lavável; suspensão de tecido; jugular, carneira e coroa feita de material não irritante, além de leveza e distribuição de peso.
 Ainda há a possibilidade de adquirir um “sistema de proteção à cabeça”, com protetores faciais e auditivos compatíveis. Outra tendência é a utilização de polímeros derivados de outros produtos, que não seja petróleo.
A escolha adequada requer a avaliação dos riscos envolvidos na atividade e o conforto do usuário.  

Vida Útil
Os fabricantes estipulam a validade do produto em cinco anos após a data de fabricação. Mas esse tempo vale para o produto fechado, na embalagem original, sem uso. Quando utilizado, a vida útil do capacete depende do ambiente de trabalho em que é usado, da presença de agentes químicos, da freqüência de higienização e da exposição de raio ultravioletas. Todos esses aspectos devem ser avaliados, não sendo possível estabelecer uma regra com durabilidade mínima e máxima para capacetes de segurança.
 

Usá-los ou não? 
            Para que possamos saber o quanto um Epi é importante, devemos antes de tudo prestar atenção aos “quase acidentes”, que são aqueles acidentes que não aconteceram “por pouco”, - um prego “quase” pisado , um caco de vidro que “quase” acertou os olhos, ou aquele cabo de força energizado que “passou raspando”. Pois estes “quase desastres” tivessem acontecido teríamos nós a “sorte” de estarmos protegidos, ou viraríamos estatísticas nas folhas do Ministério do Trabalho? Quais as chances de sobrevivermos a um cabo de média tensão que desavisadamente teimou em “roçar” nossa cabeça? Quais as chances de que aquele bloco de concreto que foi indevidamente empilhado no terceiro andar da obra e teimou em “pular” em cima de você, errar?Bem, para todos estes casos poderemos contar sempre com os Epi’s para nos protegerem destes “quase acidentes”. Mas lembre-se sempre que dentro do estojo eles não nos protegem, por mais que queiram.

                                                           Ari Cooper
                                                           Promotor Técnico 
                                                           REYMASTER Materiais Elétricos



ENSINO BÁSICO: A RAIZ DO PROBLEMA


O setor da construção civil, em especial a área elétrica, sofre com a falta de eletrotécnicos e engenheiros eletricistas qualificados. Cursos técnicos e universidades tem seu nível afetado pela má qualidade do ensino básico no Brasil.

      Os números demonstram que apesar de não viver um momento de aquecimento semelhante ao que ocorreu nos últimos anos, o mercado da construção civil ainda cresce e tem uma grande demanda por profissionais qualificados.
      O nível de emprego na construção civil brasileira cresceu 6,09% no primeiro semestre de 2012, com a contratação de cerca de 195 mil trabalhadores com carteira assinada no País. Esses números foram demonstrados por uma pesquisa realizada em junho pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), em parceria com a Fundação Getulio Vargas.
      O levantamento também aponta que, em 12 meses, ocorreram 207.976 contratações, mostrando um acréscimo de 6,58%. Apenas no mês de junho, foram contratados 6.511 trabalhadores, indicando leve alta de 0,19% em comparação a maio.
      Com as novas contratações, a construção brasileira empregava até o final de junho 3.367 milhões de trabalhadores com carteira assinada. Em junho, o emprego na construção cresceu em relação a maio nas regiões Norte (+2,73%) e Sudeste (+0,13%). O indicador, porém, recuou nas regiões Sul (-0,12%) e Nordeste
(-0,08%), e permaneceu estável no Centro-Oeste (-0,01%).
      Já no Estado de São Paulo, foram contratados mais 40.369 (+4,95%) no setor entre janeiro e junho, e em 12 meses, mais 37.925 (+4,63%) no Estado. Ao final do primeiro semestre, as empresas paulistas somavam 856 mil empregados com carteira assinada.
      O setor eletroeletrônico apresentou estabilidade no nível de emprego durante o primeiro trimestre de 2012. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), houve acréscimo de 0,56% no numero de empregados. Esse desempenho foi bem inferior ao mesmo período do ano passado, quando o acréscimo do nível de emprego foi de 2,18%.
      A perspectiva de obras voltadas para grandes eventos, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016, e em iniciativas, como o programa de habitação Minha Casa Minha Vida, reforçam a necessidade de uma base sólida de técnicos e engenheiros eletricistas no País. Mas a questão é: essa força de trabalho está sendo adequadamente qualificada?

      ENSINO TÉCNICO E SUPERIOR
    
José Aquiles Baesso Grimoni, professor da Escola Politécnica da USP, afirma que apesar de os cursos de engenharia oferecerem cerca de 247 mil vagas, o Brasil forma apenas 40 mil novos engenheiros por ano, para um mercado que necessita de cerca de 80 mil novos engenheiros anualmente. "Desse total de engenheiros, só 20% são mulheres", destaca.
      Comparando com os outros países do BRIC (sigla que se refere a Brasil, Rússia, Índia e China, países que se destacam como economias em desenvolvimento), a Índia forma cerca de 180 mil engenheiros por ano, a China, aproximadamente 350 mil, e a Rússia, 120 mil.
      "Outro indicador importante é a presença de engenheiros na sociedade (número de engenheiros por mil habitantes) e também nesse indicador o Brasil deixa a desejar, pois temos cerca de 2,5 engenheiros por mil habitantes, enquanto no Japão, esse número é de 17, na China é de 13, nos EUA é de 9,5, e na 
Alemanha é de 7,8", aponta José Aquiles.
      O Inep, órgão de avaliação ligado ao Ministério da Educação (MEC), avalia atualmente os cursos superiores do Brasil através de uma prova aplicada a cada três anos para cada carreira profissional.
      São avaliados os alunos ingressantes e os que terminam os cursos, e os resultados divulgados indicam que cerca de 25% das escolas de engenharia são reprovadas "1550 mostra que temos problemas na formação de nossos engenheiros", destaca José Aquiles".
      Ele explica que o engenheiro deve ter forte formação básica em ciências como matemática, física e química, e em disciplinas básicas de engenharia, como materiais, computação, termodinâmica, fenômenos de transporte, mecânica dos fluídos, resistências dos materiais, eletricidade.
      Além disso, o aluno deve ter também habilidades e competências, como capacidade de trabalhar em grupo, ter postura ética, considerar questões sociais e ambientais, ter capacidade de comunicação na forma escrita e oral, dominar outros idiomas, ter visão multidisciplinar, ter a mente aberta para outras formas de pensamento, fazer uso da criatividade e de um espírito inovador e empreendedor, e ter consciência da necessidade de um aprendizado continuo durante sua vida profissional.
      A engenheira eletricista Patricia Traldi, também professora da Ycon Cursos de Formação Continuada, enxerga uma queda na qualidade do ensino. "A qualificação dos profissionais recém-formados deixa a desejar. Eles não saem da faculdade preparados para assumirem os desafios e cargos existentes no mercado", afirma.
      Uma iniciativa recente para a qualificação de profissionais ocorreu em 2011, quando a Governo Federal criou o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), cujo objetivo é expandir a oferta por cursos de Educação Profissional e Tecnológica no País. De acordo com o Ministério da Educação, a Pronatec oferecerá oito milhões de vagas nos próximos quatro anos.
      Porém, para Paulo Barreto, engenheiro eletricista, que também é diretor-técnico da Barreto Engenharia, a raiz do problema de formação de profissionais não se deve a qualidade dos cursos do País. "Houve um tempo em que a formação e a utilização do técnico eram de alto nível. Eu não vejo mais isso. Mas não é por culpa do técnico ou das escolas técnicas". Qual seria, então, a principal causa dessa queda de nível?

      A PROBLEMÁTICA DO ENSINO BÁSICO
     
Um ponto parece ser consenso nesta análise: a nível da educação básica do Brasil afeta diretamente, de maneira negativa, a qualificação de profissionais nos níveis técnicos e superior. "Afeta principalmente a formação em ciências exatas, a matemática, a física e a química, que são as bases da engenharia. De certa forma, esse problema acaba reduzindo a interesse do aluno do ensino médio pelos cursos de ciências exatas", observa José Aquiles.
      "A formação é deficitária e fraca. Os cursos de engenharia e os cursos técnicos de 2° grau nada podem fazer com a matéria prima que chega. Ela vem muito ruim dos ensinos básico e fundamental", enfatiza Paulo Barreto.
      Ele acrescenta também que "isso não permite que seja desenvolvido, no ensino superior, aquilo que deveria. Os professores não conseguem desenvolver a matéria técnica porque o aluno não tem o menor conhecimento de matemática para poder desenvolver aquele assunto".
      Barreto vê como uma das principais causas pelo nível ruim do ensino básico e fundamental nacional a Reforma do Ensino Nacional de 1971, durante o Regime Militar. Segundo ele, as mudanças curriculares não estimulavam os alunos a raciocinar. "Talvez esse tenha sido um dos objetivos da Ditadura Militar, não deixar as pessoas pensarem. E deu no que deu. Hoje, nós temos uma formação fraca, não por culpa do ensino superior, mas da educação básica e fundamental. Tivemos exemplos de instituições de ensino que precisaram mudar a grade curricular para se adaptar a essa deficiência", relata.

      Inicialmente, as universidades tentavam reparar essa deficiência na formação dos alunos retrocedendo um pouco os assuntos nas aulas de matemática e física, tentando permitir um melhor entendimento. "O aluno recebia um conteúdo no ensino fundamental e não sabia em que aquilo se aplicava; portanto, se desinteressava, e quando tentava aplicar, não conseguia. Depois, com 18 ou 20 anos, ele não consegue mais ter aquela capacidade cognitiva que deve ser desenvolvida com o aluno ao longo de um curso. Como resultado, ocorreu um rebaixamento no padrão de todas as disciplinas", lamenta Barreto.
      José Aquiles conta que existem diversas ações de escolas de engenharia para mostrar o papel do engenheiro na sociedade para tentar atrair alunos do ensino médio e superar essa falta de interesse causada pelo ensino deficiente. "São feitas palestras, visitas guiadas e até estágios de pré-iniciação científica", ressalta.
      Não faltam engenheiros na área elétrica por escassez de formação, mas, sim, em consequência do distanciamento desses profissionais da área em razão de cenário do mercado de trabalho de algumas décadas atrás.
      "Os profissionais engenheiros formados ao longo das décadas de 1980, 1990 e 2000, passaram por um período em que a demanda por profissionais caiu assustadoramente. Com isso, os profissionais foram buscar espaço de trabalho em outras áreas e se tornaram donos de restaurantes, segmento financeiro, comércio, áreas administrativas etc.", relembra.
      Durante esse período, os profissionais se formavam e buscavam outras opções. "Quando o mercado de engenharia volta a solicitar esses profissionais, duas coisas podem acontecer: primeiro, ele não quer sair de onde está, pois não deixará de ser um diretor de um banco, ganhando mais de 20 mil por mês, para ganhar menos. A segunda possibilidade é que o profissional até pode ter o desejo de retornar à área da engenharia, só que ele não está preparado para isso e não conseguira desempenhar seu papel em função do longo período em que ficou afastado. E nesse contexto que nós nos encontramos. Não é a falta de engenheiros em número, e sim, de profissionais que estejam aptos e qualificados para atender essa demanda", esclarece Barreto.
      No campo da engenharia, já é muito difícil para quem está na área se manter atualizado, por se tratar de uma área muito dinâmica, envolvida com tecnologias. Para profissionais que permaneceram distantes durante muito tempo, a dificuldade se torna ainda maior.
      "Na engenharia, é muito difícil trabalhar no segmento de construção civil sem o conhecimento de normas e regulamentos técnicos. Só de normas na Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), na área elétrica, em particular, há cerca de 1.500. O profissional tem de estar atualizado. Imagina para quem está 15 ou 20 anos afastado e resolve voltar para esse segmento", explica Barreto.
      Devido a essa questão, torna-se relevante o papel de cursos de capacitação e atualização de profissionais da área. Em função disso, Patricia Traldi afirma que atualmente existe um aumento na procura por esses cursos. "A demanda por cursos de capacitação vem crescendo nos últimos anos, inclusive por temas mais específicos e direcionados para as práticas de mercado. A busca por cursos in company, voltados para treinamento personalizado de equipes conforme as necessidades de cada empresa também vem crescendo bastante", conta.
      Barreto também aponta uma mudança nas relações de trabalho como causa desse aumento por cursos. "Já se foi o tempo em que as empresas admitiam um aprendiz, uma mão de obra um pouco menos qualificada que iria aprendendo o ofício, tendo tempo de absorver o que os mais velhos sabiam. Hoje, não há mais esse tempo. Então, a pessoa já precisa chegar na obra pronta para assumir a função da qual a empresa precisa. É aí que entram os cursos e a procura tem sido crescente", sustenta.
      Além disso, existem iniciativas vindas das próprias empresas em busca de capacitar e treinar seus funcionários. "Existe uma preocupação crescente no mercado em investir em cursos e treinamentos para seus funcionários, principalmente das grandes companhias já existentes no mercado e das novas pequenas empresas que visam fornecer produtos e serviços técnicos e se estabelecer em mercados técnicos específicos", conta Patricia Traldi.
      Algumas empresas oferecem cursos e treinamentos no próprio canteiro de obra, deixando claro que existe uma distinção entre os dois termos: "No curso, é fornecido um conjunto de conhecimento que permite ao participante raciocinar sobre aqueles conteúdos e desenvolve-los futuramente, conforme a necessidade e a mudança tecnológica. Treinamento é fazer sob orientação", afirma Paulo Barreto, ao declarar também que "mudou a tecnologia e a maneira de fazer, pois quem foi treinado não está mais apto a realizar aquela tarefa. Quem faz um curso tem conhecimento, ao passo que quem treina tem informação".
      Um exemplo disso seria pensar no caso de um eletricista, cuja atividade é fazer remendas de condutores. Em um curso sobre o assunto, serão estudados os materiais isolantes, materiais condutores, propriedade isolante, propriedade condutora, os diversos tipos de condutores e tipos de emendas, conectores, as fitas isolantes que podem ser usadas, entre outros. Já no treinamento, o instrutor apanhará os fios, mostrará como emendar e como passar a fita. Caso ocorra uma mudança em qualquer um desses componentes, essa pessoa precisará ser treinada novamente.

      APRENDIZADO Á DISTÂNCIA
     
Nessa busca por capacitação, entra em pauta o uso do ensino à distância como ferramenta de educação. A professora Ivete Palange, membro do conselho da Associação Brasileira de Educação à Distância (Abed) explica que esse recurso é utilizado em cursos de formação e atualização de profissionais da área de eletricidade.
      "O Senai tinha um trabalho de educação à distância para atualização de profissionais em NR-10. Vários cursos foram aplicado, mas havia uma parte que era a distância e outra presencial. Toda a parte de segurança era ministrada a distância, e depois, existia uma parte prática presencial", afirma ela, destacando que existe uma procura grande por cursos do tipo.
      José Aquiles acredita que o ensino à distância seja válido como forma de complementar o desenvolvimento profissional e expandir as fronteiras do conhecimento, permitindo o acesso a outros profissionais e especialistas de demais locais, e com experiências variadas que podem ser compartilhadas. "A ideia não é colocar o ensino presencial contra o ensino à distância, mas aproveitá-lo e usá-lo como mais uma ferramenta para tornar o processo de ensino e aprendizagem mais eficiente", afirma.
      Patricia Traldi reconhece que toda forma de aprendizado e conhecimento é válida, mas destaca que nada substitui o contato pessoal e constante entre professor e aluno. "Assim, cria-se um ambiente que estimula a curiosidade e a troca de experiência entre os participantes dos cursos de formação continuada, valorizando o conteúdo ministrado e aumentando o aproveitamento e a satisfação dos alunos", frisa.
     Na visão de Paulo Barreto, essa ferramenta é válida em cursos, mas com algumas restrições. "A riqueza que existe no curso presencial não pode ser reproduzida em um curso à distância. A pessoa fica no terminal lendo, tem um horário que pode entrar em uma sala de bate-papo, por exemplo, mas é só. Não tem a dinâmica de uma aula presencial", compara.
      Nesse contexto, ele acrescenta que treinamento à distância é um conceito paradoxal. "Não dá para se ensinar a fazer, corrigindo erros de postura e manuseio do individuo, á distância. O aluno pode assistir a um filme de alguém demonstrando como fazer, mas quem olhara se ele faz direito?", observa.

      UMA QUESTÃO CULTURAL
      
De acordo com a legislação brasileira, eletricistas estão impedidos de tomar decisões, mas podem apenas executar decisões tomadas pelos profissionais legalmente habilitados, técnicos, tecnólogos, engenheiros. Porém, observa-se que na prática isso é comumente ignorado. É uma cultura não difundida no Brasil.

      "Só deveria ser possível para pedreiros, encanadores e eletricistas trabalharem sob a supervisão de um técnico em edificações, um eletrotécnico, e assim por diante. Esse é o grande papel dos técnicos que deveria existir no Brasil. Posso dizer que a sociedade desconhece isso", afirma Paulo Barreto.
     A falta dessa cultura contribuiu para que eletricistas sem nenhum tipo de formação ou treinamento exerçam a profissão. Em entrevista a revista Lumière Electric edição 166, publicada em fevereiro de 2012, o presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco), Cláudio Elias Conz, declarou que "O Brasil é o único país em que o eletricista é treinado por tentativa e erro na casa do consumidor", e que a falta de qualificação é o grande gargalo para o desenvolvimento do segmento elétrico.
      Paulo Barreto concorda com essa crítica, apontando que existem eletricistas que aprendem a profissão com o pai ou sozinho, por exemplo. "A tentativa e erro é a mão de obra que não tem educação técnica".
      Conz também destacou o programa da Anamaco, o Projeto Loja Escola, que oferece cursos, treinamentos, palestras e seminários para eletricistas. Ele afirma que a Loja Escola já treinou mais de 11 mil profissionais.
      O que fica claro diante de todo esse quadro é a importância de o País formar e qualificar mais profissionais se quiser atender as suas ambições e necessidades de crescimento. Para isso, não bastam apenas iniciativas de treinamento de mão de obra, visando resultados imediatos, e sim, uma maior atenção ao ensino básico, garantindo a possibilidade de uma formação mais profunda e completa a engenheiros e técnicos, e também a difusão de uma cultura voltada para a legalidade e segurança de projetos e instalações elétricas.

 

                                                                                                                                 Por Ricardo Casarin
                                                        Artigo da Revista Lumière Eletric edição 172,agosto de 2012.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Bioenergia para produção de eletricidade


      Os combustíveis fósseis constituem-se como a principal fonte de emissões de gases chamados de efeito estufa (sendo os principais gases responsáveis pelo efeito estufa o CO2, o CH4, o N20, o HFC, o PFC e o SF6 ) e de compostos sulfurados, responsáveis pela chuva ácida.
      A atual intensificação do efeito estufa natural terrestre, que ocorre devido ao aumento dos gases de efeito estufa na atmosfera, é considerada por grande parte da comunidade científica o fenômeno responsável pelas mudanças climáticas globais atualmente em curso, que aumentam a frequência dos eventos climáticos extremos como secas, inundações, furacões, nevascas, ondas de calor, etc.
      Assim, os estudos aprofundados sobre o assunto levaram a comunidade internacional à tomada de decisões e à criação de convenções e protocolos internacionais para negociação de reduções de emissões, em especial, o Protocolo de Quioto, ferramenta criada para negociações de permissões de créditos ou permissões de emissões entre os países signatários do protocolo e promoção do desenvolvimento sustentável dos países em desenvolvimento por meio da mitigação das mudanças do clima.
      Segundo Martins (2004), uma das formas de controlar as emissões de carbono é a substituição de recursos energéticos derivados de combustíveis fósseis por outros com menores emissões de carbono por kWh consumido, como ocorre com as Fontes renováveis (eólica, solar, biomassa, etc.).
      Dessa forma, a utilização de biocombustíveis em substituição aos combustíveis fósseis possibilita a redução de emissões líquidas de dióxido de carbono (C02), de monóxido de carbono (CO) e de gás metano (CH4), bem como de gases sulfurados.
      O incremento progressivo do uso de energia proveniente de Fontes renováveis na matriz energética, em especial bioenergia proveniente de biomassa, pode ser uma das melhores soluções para a problemática do consumo de combustíveis fósseis.
      Quando produzida de forma eficiente e sustentável, a energia a partir da biomassa traz inúmeros benefícios ambientais, econômicos e sociais quando comparados aos combustíveis fósseis. Esses benefícios incluem o melhor manejo do solo, a criação de empregos, o uso de áreas agrícolas excedentes, o fornecimento de vetores energéticos modernos a comunidades rurais, a redução nos níveis de emissões de CO2, o controle de resíduos e a reciclagem de nutrientes, entre outros.
      No que se refere a questão social, como a maior parte da biomassa é produzida na zona rural, ocorre a fixação do homem no campo e a geração de empregos nessas regiões, principalmente de pessoas de baixa escolaridade,  que evita o deslocamento populacional para áreas urbanas. Em países pobres, como os do continente africano e da América Latina, a produção de biomassa sustentável pode contribuir para o desenvolvimento social da região com a geração de renda para as populações locais.
      São grandes os benefícios ambientais e energéticos decorrentes do cultivo, de plantas perenes e florestas, além de plantações com safras anuais, que são de matérias-primas alternativas de curto prazo para a produção de combustíveis.
      Os sistemas agroflorestais  podem desempenhar um papel importante na obtenção de energia e fornecer outros benefícios para os agricultores e as comunidades de entorno. Para diminuir os níveis de emissão de CO2, da biomassa como um substituto dos combustíveis fósseis (substituição total, co-firing etc) é vantajoso, do ponto de vista socioeconômico.
      As vantagens  econômicas da biomassa, principalmente para os países em desenvolvimento, baseiam-se no fato de ser uma fonte de energia produzida regionalmente e, portanto, colaborando para independência energética em relação à importação de combustível e geração de receita. Na verdade, está questão econômica da biomassa é uma questão estratégica, contrapondo as situações de crise mundial, que se repetem com frequência cada vez maior.
      Atualmente, o Brasil possui a matriz energética mais renovável do mundo industrializado, com 45,3% de sua produção proveniente de fontes como recursos hídricos, biomassa e etanol, além das energias eólica e solar.
      Este capítulo é o primeiro de uma serie de três, que pretendem abordar as diferentes fontes de bioenergia no Brasil. Neste primeiro é apresentado o tema de geração de eletricidade a partir de resíduos agroindustriais, urbanos e rurais. Nos próximos serão abordadas outras fontes como os biocombustíveis líquidos e a importância da biomassa no Brasil e no mundo.

      A utilização de biomassa para geração de energia elétrica no Brasil
     
O Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) do Ministério de Minas e Energia (MME) foi instituído em 2004 (Decreto nº  5.025) com o objetivo justamente de aumentar a participação da energia elétrica produzida por fontes renováveis como biomassa, eólica, solar e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). Atualmente, apenas 7,18% da energia gerada no Brasil provêm da biomassa.
      Esta geração de eletricidade a partir de biomassa ocorre principalmente nos setores sucroalcooleiro, de papel e celulose, arrozeiro, nas agroindústrias que utilizam os resíduos correspondentes (bagaço de cana, resíduos de madeira e licor negro, casca de arroz). A utilização de biogás de resíduos urbanos e rurais ainda é reduzida, com algumas plantas de geração em aterros sanitários e em produtores rurais no Sul do país.
      O  aumento da participação da biomassa na geração de energia no Brasil depende do estudo de seu potencial e disponibilidade, uma vez que o uso de resíduos como combustível em alguns setores não é algo tradicional. A coleta e a sistematização de informações sobre disponibilidade desses recursos energéticos é, portanto, fundamental para a elaboração e execução das políticas relativas ao setor.
      Com o intuito de viabilizar o uso da biomassa como fonte eficiente de energia, o Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio) realiza, desde 2002, um levantamento minucioso do potencial de biomassa para geração de energia a partir de resíduos agrícolas, florestais, urbanos, rurais e de óleos vegetais. O levantamento tem como objetivo apresentar um panorama do potencial atual nacional na forma do "Atlas de Bioenergia do Brasil".
      Este Atlas é um instrumento para a proposição de estudos relativos ao uso da biomassa como combustível e também para o desenvolvimento de métodos e processos de melhoria de eficiência de geração de energia a partir de resíduos já existentes. Sua importância é de auxiliar na tomada de decisão, pois neste estudo é possível encontrar dados relativos ao potencial de geração de energia baseado nos potenciais de biomassa em diferentes regiões do Brasil.
      O Atlas de Bioenergia apresenta, para cada região do país, o potencial de bioeletricidade em MW, de cada tipo de biomassa estudada.
      Cada região do país tem sua vocação agrícola particular, gerando diferentes tipos de resíduos a serem aproveitados para geração de energia. Segundo o último levantamento realizado pelo Cenbio, os potenciais de cada biomassa são apresentados a seguir.

      Resíduos agroindustriais

      Bagaço de cana-de-açúcar
      Atualmente, considera-se que uma tonelada de cana colhida resulta em, aproximadamente, 33% de caldo; 33% de bagaço (50% de umidade); e 33% de palhiço (palha e pontas com 15% de umidade).
      O bagaço, subproduto resultante da moagem e extração do caldo de cana, é largamente utilizado pela indústria sucroalcooleira na produção de energia mecânica e vapor para uso interno, além da grande produção de energia elétrica excedente, que é vendida para rede nacional.
      Resíduos tais como palha e pontas somente estão disponíveis quando é realizada a colheita mecanizada, com posterior recolhimento parcial do palhiço do campo (50% da palha e pontas colhidas) e transporte para indústria. De outra forma, tais resíduos são queimados quando se opera a colheita manual com queima do canavial ou são deixados no campo quando o transporte para a indústria não é viável economicamente.
      No Brasil, o maior produtor de cana-de-açúcar é o Estado de São Paulo que representa 53,9% da produção nacional (Conab, 2012). Ainda segundo a Conab, o Brasil moeu 571,4 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na safra 2011/2012. Na safra 2009-2010, o setor apresentou uma capacidade instalada de 5.900 MW, com uma venda de excedentes à rede de 2.100 MW (Unica, 2012). O bagaço de cana representa 81,4% da geração de energia a partir de biomassa no Brasil (Aneel, 2012 b).
      Com essa produção nacional, os potenciais para geração de energia a partir dos resíduos da cana-de-açúcar são de: 3.082 MW/safra para um cenário de 30 kWh/tonelada de cana moída, 4.109 MW/safra para um cenário de 40 kWh/tonelada de cana moída e, finalmente, 8.240 MW/safra para um cenário de 120 kWh/tonelada de cana moída, dependendo da tecnologia empregada (pressão das caldeiras e tipo de turbina a vapor).
      Esses três cenários são propostos pois as usinas sucroalcooleiras estão em diferentes estágios de desenvoIvi- mento em relação a eficiência das caldeiras utilizadas para geração de vapor. O cenário de 30 kWh/tonelada de cana moída corresponde a substituição das caldeiras de 21 bar por 60 bar e a introdução de turbinas multiestágio para as moendas. O índice de 40 kWh por tonelada de cana moída se aplica para caldeiras de 60 bar com as moendas eletrificadas.
      Finalmente, o cenário mais eficiente de 120 kWh/tonelada de cana moída considera o uso das palhas de pontas (40% em peso) obtidas na colheita da cana crua e uso da energia gerada durante o ano todo, ou seja, 8.322 horas por ano, em sistemas de 80 bar e turbinas de condensação e extração.

      Resíduos de madeira (silvicultura)
     
A partir da conscientização de esgotabilidade das florestas nativas diante de uma exploração intensa, foram desenvolvidas técnicas de plantio e manejo de espécies florestais com objetivo de aumentar a produtividade. Em sua origem, as florestas plantadas, cuja atividade exploratória chama-se silvicultura, atenderam às necessidades do país em termos de madeira para fins industriais, especificamente para produção de papel e celulose. Entretanto, desde o começo dos anos 1980 tem-se difundido novos padrões e conceitos na formação de florestas homogêneas, visando a produção de energia à partir de biomassa (Nogueira & Lora, 2003).
      O termo floresta energética está sendo usado para definir maciços florestais, a partir dos quais o objetivo é obter maior quantidade de energia por hectare no menor espaço de tempo. As diferenças básicas entre as florestas tradicionais e as florestas energéticas estão no menor ciclo de corte, entre dois e quatro anos, e em maior densidade, com espaço entre as árvores geralmente inferior a 2 x 2 metros, ou seja, mais de 2.500 árvores por hectare. Tipicamente as espécies mais adaptadas as florestas energéticas são o eucalipto e o pinheiro, no caso do Brasil, de clima tropical.
      Os resíduos florestais incluem os subprodutos das atividades silviculturais, como pontas e caules deixados no campo e que, em função da finalidade da madeira produzida, industrial ou energética, apresentam distintas produções específicas.
      Observa-se que a geração total de resíduos na exploração florestal, incluindo resíduos de serragem, pode ser muito superior a produção de madeira trabalhada.
      O  Brasil produziu 115.741.531 milhões de m3 de madeira em tora provenientes da silvicultura em 2010 (lBGE/SIDRA, 2012a). A produção de madeira concentra-se nas regiões Sudeste e Sul do Brasil. No Sudeste, há predomínio do Eucalyptus (93,8%) em relação ao Pinus (6,2%). No Sul o Pinus predomina em 71,9% da área plantada, enquanto o Eucalyptus representa apenas 28,1 % (ABRAF, 2011).
      Em 2011 a capacidade instalada para geração de eletricidade com resíduos de madeira era de 370 MW (Aneel 2012 b). Com esta produção anual estima-se um potencial de geração de 1.650 MW por ano, se utilizada tecnologia com eficiência de 15%. Esta tecnologia é indicada para potenciais entre 200 kW/ano e 10 MW/ano. Para potenciais acima de 10 MW/ano, são considerados equipamentos com eficiência de 30%,o que resulta numa potencia de 3.299 MW/ano, apenas para resíduos do processo industrial da madeira.

      • Papel e celulose
      
O setor de papel e celulose possui grande quantidade de resíduos principalmente nas indústrias produtoras de celulose (indústrias de celulose e integradas, que produzem celulose e papel). Estes resíduos são cascas e restos de madeira, além do licor negro, subproduto da produção de celulose.
      A geração de eletricidade excedente para venda à rede só é possível (em alguns casos) nas indústrias de celulose, em vista do balanço energético de cada tipo de indústria do setor. Algumas indústrias como a Cenibra, em Minas Gerais, vendem excedente a rede.
      Em 2011 o setor apresentava uma potência instalada de 1.245 MW utilizando licor negro como combustível (Aneel, 2012 b).

      • Casca de arroz

      O Brasil produziu, em 2010, 11.235.986 toneladas de arroz em casca (IBGE/SIDRA, 2012b) sendo o Estado do Rio Grande do Sul o maior produtor nacional, contribuindo com 61,2% da produção em 2010.
      A casca de arroz representa aproximadamente 30% do total produzido. Este é o resíduo resultante do beneficiamento do arroz que acontece nas instalações de grandes empresas beneficiadoras ou de cooperativas de produtores.
      O uso mais interessante desse resíduo se dá em usinas termelétricas de energia (UTE). No Brasil já existem oitos UTEs movidas à casca de arroz em operação e uma em construção.
      Com o montante de arroz produzido em 2010 no Brasil, o potencial de geração de energia é de 239 MW, mas em 2011 a potência instalada era de 32 MW, representando apenas 0,35% do potencial total gerado a partir de biomassa no país (Aneel, 2012 b).

      Resíduos rurais

      • Biogás do tratamento de dejetos de suínos
     
O aproveitamento dos dejetos animais, altamente poluentes, como fonte de energia elétrica ou térmica pode ser bastante atraente. Além dos benefícios ambientais, por meio do aproveitamento de dejetos que hoje são lançados no ambiente, o uso do biogás como combustível reduz os custos com energia elétrica e, em alguns casos, gera receita com a venda de energia excedente e de créditos de carbono.
      Dentre os diversos tipos de rebanho e na suinocultura que se verifica a maior emissão percentual de concentração de metano no biogás, chegando a 66% (MOTTA, 1986). Contudo, produzir energia elétrica a partir de dejetos de animais ainda não é uma prática disseminada, ainda que o uso do biogás apresente-se como uma alternativa vantajosa para os produtores rurais em termos de geração de energia elétrica e resolução do problema de disposição final desses resíduos.
      A produção de energia a partir dos dejetos é realizada em biodigestores em que os dejetos são misturados com água e mantidos por um período predefinido, variando de acordo com o tipo de biodigestor e da temperatura local. Durante este período, as bactérias anaeróbicas atuam sobre o dejeto liberando o biogás. O material residual deste processo é chamado de biofertilizante. O biogás gerado pode ser aproveitado para geração de energia elétrica ou térmica.
      O rebanho suíno no ano de 2010 era de quase 39 milhões de cabeças, o que representou um potencial para geração de 72.093.649 m3 de metano por mês no Brasil.

      Resíduos urbanos

      • Biogás de aterro
     
Uma das formas mais comuns e corretas de disposição final dos resíduos sólidos urbanos, ou lixo, é em aterros sanitários. A disposição em aterros consiste no confinamento dos resíduos em uma área com solo impermeabilizado, por meio de camadas de argila e geomembrana de polietileno de alta densidade (PEAD) e coberto com camadas de terra, isolando-o assim do meio ambiente.
      Os resíduos sólidos urbanos, quando acumulados de maneira continua nos aterros, sofrem ação de agentes naturais, como água de chuva e microorganismos, que influenciam em sua decomposição. Durante a decomposição ocorre o processo de digestão anaeróbia da matéria orgânica presente no lixo, formando dois vetores poluidores do meio ambiente: a chorume, líquido poluente, de cor escura e odor nauseante e o biogás.
      O chorume é captado por meio de tubulações horizontais, implementadas durante o aterramento do lixo e escoado para tanques de tratamento ou de retenção, onde é armazenado e, posteriormente, transportado para uma estação de tratamento.
      Já o biogás é captado por tubos de sucção horizontais e verticais que drenam o gás. Em cada tubo vertical é conectada tubulação de transporte do biogás, que vai encaminhá-lo  ao sistema de queima direta, em flare. Outra possibilidade é a utilização do biogás em sistema de geração de energia.
      A captação do biogás produzido em aterro sanitário possibilita a geração de energia elétrica e térmica. No entanto, o processo de recuperação é incompleto, pois permite o aproveitamento de 40% a 60% do total de biogás produzido, devido a sua eficiência de coleta.
      A produção de energia elétrica a partir do biogás pode aumentar a eficiência energética do aterro, podendo torná-lo autossuficiente em seu consumo. Além disso, há possibilidade de o aterro comercializar a energia elétrica excedente e os creditos de carbono obtidos pela queima do metano e sua transformação em dióxido de carbono.
      O primeiro leilão de crédito de carbono foi realizado em 2007, em que foram negociadas 808.450 toneladas de dióxido de carbono pertencentes ao aterro Bandeirantes, por € 16,20 a tonelada. Em setembro de 2008, ocorreu o segundo leilão, em que foram negociadas 454.657 toneladas de dióxido de carbono pertencentes ao Aterro Sanitário Bandeirantes e outras 258.657 toneladas, originárias do Aterro Sanitário São João, por € 19,20 a tonelada. Atualmente, os valores encontram-se ao redor de € 11 a tonelada (Point Carbon, 2011). A capacidade instalada em cada um destes dois aterros é de 20 MW.

       • Biogás de tratamento de esgoto
     
Dentre as diversas alternativas disponíveis para o tratamento de efluentes líquidos, ou esgoto, destaca-se a digestão anaeróbia. Os digestores anaeróbios, ou biodigestores, são equipamentos utilizados para digestão da matéria orgânica presente nos efluentes líquidos, permitindo a redução de seu potencial poluidor além da recuperação da energia na forma de biogás.
      Os biodigestores são câmaras fechadas, nos quais é adicionado o efluente rico em material orgânico e, por meio da decomposição anaeróbia, ocorre a diminuição da quantidade de sólidos e de microorganismos patogênicos. Os modelos de biodigestores mais utilizados para o tratamento de efluentes líquidos são: Chinês, Indiano e Rafa (Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente).
      O processo de digestão anaeróbia possui quatro fases: hidrólise, acidogênese, acetogênese e metanogênese. Somente nesta ultima fase ocorre a formação do biogás, composto, principalmente, por metano e dióxido de carbono, que pode ser utilizado como Fonte de energia.
      O lodo resultante do processo de digestão anaeróbia possui alto valor nutricional para plantios e o efluente biodigerido pode, ainda, passar por um sistema de pós-tratamento antes de ser lançado nos corpos d'água. É importante ressaltar que essa prática deve atender às normas ambientais, como as Resoluções Conama nº 357, de 17 de março de 2005, e nº 397, de 03 de abril de 2008.
      A coleta de biogás proveniente do tratamento anaeróbio do esgoto é realizada por meio de tubulação conectada a parte superior do biodigestor. Essa tubulação direciona o biogás ao sistema de purificação para, em seguida, ser encaminhado ao sistema de geração de energia ou ao sistema de queima direta em flare, assim como ocorre com o biogás de aterro sanitário.
      A geração de energia pode ser elétrica para consumo na estação de tratamento ou também de energia térmica, produzindo para aquecimento dos próprios biodigestores.
      Ambos os sistemas proporcionam ganho na economia da estação de tratamento de efluente, tornando-o mais atraente economicamente .
      De maneira geral as Fontes de biomassa ainda são pouco exploradas no Brasil, exceto pelas grandes indústrias, como as sucroalcooleiras e de papel e celulose. o potencial do Brasil é enorme e o uso da biomassa como Fonte eficiente de energia no país deverá se tornar cada vez mais importante. Várias ações nesta direção já estão sendo realizadas seja nas esferas governamental, seja entre as empresas privadas.  

                                                                                  Artigo da revista O Setor Elétrico edição 78 julho de 2012 por Maria Beatriz Monteiro, Beatriz Acquaro Lora e Suani Teixeira Coelho.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A Eficiência no gerenciamento e organização de cabos.


A especialista mundial em sistemas para infraestrutura elétrica e redes, a LEGRAND inova mais uma vez e traz para o Brasil o sistema de organização de cabos com Eletrocalhas Aramadas da CABLOFIL, com diversos diferenciais e vantagens que fazem a diferença na execução de projetos elétricos e dados. Com quatro unidades de produção na Europa e nos E.U.A, a CABLOFIL conta com mais de 130.000 km de eletrocalhas aramadas instaladas.
Utilizado em diversos setores da Indústria, a CABLOFIL se destaca pelo fácil manuseio em campo e sua versatilidade na criação de curvas sem o uso de componentes a parte, tudo é feito a partir do próprio trecho de eletrocalha. Com isso se reduz o custo do projeto e o principal, se ganha tempo na execução do projeto.

 

 Um dos diferenciais da marca é o formato de solda em “T” conforme ilustrado na Figura 1, este tipo de solda facilita lançamento dos cabos e evita o rompimento da capa dos mesmos.

Uma das principais duvidas quando falamos sobre eletrocalhas aramadas é em relação a resistência mecânica. As eletrocalhas aramadas CABLOFIL são testadas em varias situações, e com isso sua resistência e durabilidade é comprovada e certificada pelos principais laboratórios mundiais.
 
Figura 2: Gráfico de relação Peso X Distância
Disponível em tamanhos de 100 a 600 mm de largura, a CABLOFIL conta com eletrocalhas EZ (Zincado Eletrolítico) GC (Galvanizada a fogo) 304L e 316L (Inox).

A Reymaster conta com um corpo técnico especializado que auxilia os clientes na especificação das eletrocalhas aramadas e dicas na instalação. Contamos com uma grande variedade de eletrocalas aramadas em estoque e seus acessórios.

Autor: Willian Marconato
 Promotor técnico.

                               
                       
 
                                                                                     
 

AUTOMAÇÃO E REDES INDUSTRIAIS


Atualmente, a automação assim como as redes de comunicações não ficam restritas somente ao chão de fábrica do âmbito industrial. A automação adquire novos rumos e possui relativa importância no mundo dos negócios, fazendo com que o desempenho dos processos industriais influencie com grande força a ação comercial das empresas. Nesse artigo serão abordadas as camadas de automação dentro de um sistema, assim como suas redes de comunicação, e como elas podem desempenhar funções para melhoria em controle de processos.

Crescentes demandas de informações e variáveis cada vez mais complexas dentro de um processo industrial colocam a automação de processos como fator de suma importância no setor fabril. Com esse advento, economia de energia, melhor gerenciamento no controle de qualidade e aumento de produtividade, são alguns dos benefícios recorrentes da implantação de sistemas automatizados.
Para um bom entendimento e uma visão mais completa e adequada de uma rede de comunicação em um sistema de automação, é necessário compreender a forma com que a mesma é segmentada e como funciona a integração das suas camadas de rede ou níveis da pirâmid e de automação, como mostra a figura abaixo. 


 
Como primeiro nível em um sistema automatizado tem-se os dispositivos de campo, ou seja, sensores e atuadores. O nível de chão de fábrica propriamente dito, onde os componentes da planta, o maquinário ou equipamentos que executam o controle distribuído, integram a primeira camada da pirâmide de automação. Como exemplo, no primeiro nível tem-se a rede Fieldbus, CAN, Profibus DP, Profibus PA e HART.
Em seguida tem-se a camada de controle, onde o CLP, CNC e SDCD se encontram. Nível com os equipamentos que executam o controle (automático centralizado ou não) das ações de uma planta industrial. Controlnet, EthenetIP, OPC, Modbus e Profinet exemplificam a rede de comunicação dessa camada, fazendo a integração com o nível seguinte.
Com os sistemas de supervisão: Workstation, PC e IHM o terceiro nível da pirâmide da automação é implementado. Através dessa camada é permitida a supervisão e otimização dos processos. Normalmente, este nível é proprietário de bancos de dados com informações relativas ao processo. Ethernet, TCP/IP, OPC, DDE e DCOM são as redes de comunicação com o nível posterior.
A partir do quarto nível é possível a programação e planejamento de produção. Através dessa camada é realizado o controle, agendamento e logística de suprimentos. As informações trafegadas já possuem determinada importância e relativa concatenação com a gestão e a administração empresarial. Este nível também utiliza os padrões Ethernet e TCP/IP.
No quinto e último nível da pirâmide, convergindo para pontos específicos, ou seja, integrando uma centralização das informações, encontra-se o gerenciamento corporativo, responsável pela administração dos recursos da empresa. Nessa camada encontram-se os softwares para gestão de vendas e financeira.

A tecnologia da informação cada vez mais adquire peso em um processo industrial. Dados digitais se mostram cada vez mais determinantes e acessíveis acerca de um protocolo de rede de comunicação. Com isso, questões totalmente relativas a um único processo podem ser analisadas e trabalhadas para uma melhoria contínua das linhas dentro da indústria, refletindo de forma significativa no topo da pirâmide, onde os sistemas de gestão e vendas estão presentes.
Como exemplo de uma melhoria de campo tem-se as novas plataformas de sensores industriais. Com o elevado desempenho de microprocessadores e microcontroladores, assim como o fornecimento facilitado dos mesmos, os dispositivos de campos já possuem interface de comunicação de rede. Assim estimando uma troca de dados muito mais eficiente e refletindo de forma positiva no processo gerencial da empresa.
Notadamente nos últimos anos, com o avanço das áreas do conhecimento da eletrônica, focando principalmente a eletrônica digital e colocando em evidência a automação e as redes de comunicação, fica fácil verificar a melhoria no controle de processo, como a evolução tecnológica tornou o mercado atual mais rápido tanto no que diz respeito aos processos da manufatura, assim como na qualidade e padronização do produto final.



Vitor Santos
Tecnólogo em Automação Industrial
Promotor Técnico

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Nova linha Cat.5E da Hellermann Tyton para pequenas redes

Hoje qualquer empresa, mesmo as de pequeno porte, precisa de uma rede. A instalação do cabeamento estruturado nesses ambientes pode ser fácil e rápida, e o melhor, mantendo a qualidade técnica das grandes corporações. A HellermannTyton lançou uma nova linha de cabeamento de Categoria 5E, a LC Solution, voltada especificamente para as pequenas redes, pois alia vantagens como os custos mais acessíveis e a simplicidade de instalação.
      "Percebemos que havia uma grande demanda por esse tipo de solução", diz Ricardo Chiesa, gerente de produto da HellermannTyton e um dos idealizadores da LC Solution, que foi totalmente desenvolvida no Brasil.
      A aposta estava certa: em poucos meses de lançamento (a apresentação ao mercado ocorreu em fevereiro ultimo), as vendas superaram as expectativas. "Estamos recebendo muitos pedidos de todo o país", diz Chiesa.
      A HellermannTyton continuará com sua linha tradicional de cabeamento, importada da matriz na Inglaterra, que não concorre com a LC Solution. "Até mesmo a forma de comercialização é diferente", diz o gerente. Ou seja, enquanto a primeira destina-se ao setor high end, de grandes projetos de integradores e distribuidores, a LC foca revendas de material elétrico e até mesmo lojas de material de construção. "Muitos eletricistas estão começando a agregar cabeamento a seus serviços", diz.
      Para conquistar esse nicho de mercado, a HellermannTyton está importando os produtos da Ásia. Além dos custos até 50% inferiores, um outro ponto importante foi a simplificação e modularização da linha: a solução completa e composta por apenas 11 produtos, que se intercambiam e atendem à
maioria das aplicações: patch panel com um ou três módulos; módulo de oito portas para patch panel; módulos cegos para patch panel; conector RJ-45 fêmea e macho; patch cords (1,5 e 2,5 m); ferramenta de terminação; decapador; e cabo UTP Cat. 5E CMX. "Com os módulos de oito portas, não há desperdício de portas. Redes menores podem economizar e manter a estética", diz. A linha LC não inclui Cat.6 e superiores nem cabeamento óptico.
      Um produto importante para o sucesso da solução é a ferramenta de inserção, que faz a terminação e corte dos quatro pares de um RJ-45 fêmea ao mesmo tempo, aumentando a produtividade. Também evita que o instalador se machuque e danifique móveis ou paredes ao apoiar o RJ-45 fêmea se usar uma ferramenta de impacto. "A nova ferramenta cria uma padronização na conectorização", diz. As tomadas ou módulos são do tipo RJ-45 fêmea (8P8C) keystone.


      Os produtos são embalados em blisters com furações que permitem a disposição em gancheiras nos pontos de venda, com instruções detalhadas da instalação no verso. "A linha dispensa testes, treinamentos e certificações e foi totalmente projetada para evitar erros do instalador", diz. Além disso, a empresa mantém um canal direto para esclarecimentos de dúvidas dos clientes. A linha tem a marca da HellermannTyton, mas não faz parte do seu programa de certificação e garantia estendida, o Network Sciences. Mesmo assim, a linha LC possui um ano de garantia.
      Com planta de 13 mil metros quadrados em Jundiaí, SP, a HellermannTyton emprega cerca de 350 pessoas e produz sistemas de fixação e amarração para fios e cabos, canalização e identificação.
      A linha de cabeamento estruturado de alta densidade da HellermannTyton, como a RapidNet, é comercializada por meio de uma rede de 12 distribuidores espalhados pelo país. A companhia conta com um programa de garantia estendida de 25 anos para seus integradores certificados. Hoje são mais de 200 canais treinados. Entre seus recentes fornecimentos esta o da revitalização da rede da USP - Universidade de São Paulo, que vai fazer uma migração do cabeamento estruturado para Categoria 6 no período 2012-2013, além de construir anéis ópticos e data centers.

                                                                                               Artigo da revista RTI – Edição julho 2012.


Smart Grid

Uma grande mudança no setor de eletricidade.


As smart grids - redes inteligentes - são essenciais para transformar as redes de eletricidade e assim lidar com a crescente demanda, a geração intermitente e distribuição renovável e as pressões ambientais. Mas há tantos desafios quanto oportunidades.
      Cerca de 50 bilhões de dispositivos de diversos tipos podem estar conectados um ao outro ao redor do mundo até 2020, de acordo com estimativas. E esse número pode ser até conservador, considerando os 6 bilhões de celulares existentes hoje no mundo. As redes de eletricidade serão o alicerce dessa "constelação de microrredes", fornecendo eletricidade para praticamente todos os outros componentes de uma forma ou de outra, mas também explorando as novas possibilidades oferecidas pelas primorosas tecnologias de informação e comunicação (ICT).
      A soma dessas possibilidades geralmente é chamada de "smart grid", com o foco de gerenciar melhor a energia do sistema através da coordenação de microrredes. As definições variam, mas, em um sentido amplo, o termo é usado para descrever as redes de eletricidade com capacidade bidirecional de comunicação e energia, da geração - convencional e renovável- ao uso final: comercial, industrial e residencial. A rede inteligente é tanto uma criadora quanto um requisito do setor de energia, que evolui em resposta a diversas demandas. No setor tradicional de energia, a maior parte dela é produzida principalmente por grandes geradores alimentados por combustíveis fósseis, sendo então enviada para os clientes que pagam um preço de varejo médio e determinado uma única vez. A comunicação sempre foi um processo de mão única, com o consumo previsto e financeiramente reconciliado através de leituras de medidores - feitas manual e individualmente - meses após a entrega.
      Os meios atuais de produção de energia operam com emissões de CO2 excessivamente altas. Seguindo
as tendências atuais, por exemplo, as emissões anuais de CO2  crescerão dos aproximados 30 Gt do momento para aproximadamente 43 Gt até 2035, quando a produção global de petróleo deverá ter alcançado seu pico. Então, muita coisa está em jogo. As smart grids estão no topo da agenda dos legisladores e estiveram presentes na Conferência Rio+20, com o objetivo de ajudar a fornecer acesso universal a energia para todos. A rede inteligente já é um requisito do setor de energia.

GERANDO A MUDANÇA
     
Com a rede inteligente, a comunicação se torna multidimensional, com as informações fluindo entre diversos dispositivos participantes e pontos de consumo em tempo real. Isso permitirá que todo o sistema opere de forma mais flexível e facilite a penetração de tecnologias de baixo carbono, tais como veículos elétricos. As redes inteligentes também devem liderar a evolução de políticas de energia, trazendo vantagens aos usuários de eletricidade similares às experimentadas em outras áreas, como a comunicação. O preço da eletricidade também pode flutuar hora a hora ou minuto a minuto, conforme a disponibilidade de energia no sistema.
      Renováveis fazem parte da solução. A energia eólica, solar, geotérmica e marítima crescerá mais rápido do que outras fontes no mundo, em uma taxa de 7,2% ao ano até 2030. A energia renovável precisa ser integrada em um sistema consistente de gestão de energia, cujo papel é equilibrar toda a rede de transmissão e distribuição através de instalações de geração e armazenamento de energia distribuída em tempo real, em pequena escala, tais como instalações solares em telhados ou veículos elétricos operando em sistema plug-in. As redes inteligentes melhorarão a utilização de recursos de rede dando aos clientes o incentivo para alterar o consumo para períodos de alta disponibilidade de energia (períodos fora de pico, ou períodos renováveis de pico). A melhor eficiência da rede também reduzirá a necessidade de uma nova infraestrutura, especialmente em áreas congestionadas onde os
 custos - e a oposição pública - estão subindo. Aqui, a eletrônica de potência ajudará a aumentar a densidade da vazão de energia sobre a capacidade existente.
      As redes inteligentes também melhorarão a eficiência geral do sistema, permitindo maior integração entre regiões ou países. Para regiões cobrindo diferentes horários e climas, as redes inteligentes melhorarão muito o equilíbrio entre consumo de energia e geração renovável, aumentando, assim, a eficiência da rede. Oportunidades parecidas existem na América do Norte, onde a maior parte da infraestrutura da rede é regionalizada. Além dos benefícios econômicos, as redes inteligentes facilitarão o desenvolvimento de redes de larga escala e zero carbono. Embora o consumo de eletricidade represente apenas 17% do uso total de energia hoje, ele leva a 40% de emissões globais de CO2, o que se deve em grande parte ao fato de a eletricidade ser produzida com combustíveis fósseis. As redes inteligentes ajudarão a reduzir pela metade essa contribuição, diretamente através de uma melhor eficiência do sistema da rede, e indiretamente através do suporte a veículos elétricos e renováveis.
      As redes inteligentes podem liderar a evolução das políticas energéticas.

INVESTIMENTOS EM TECNOLOGIAS
     
Investimentos significativos são necessários para que seja possível extrair benefícios integrais dessas tecnologias. Uma rede inteligente completamente funcional nos EUA exigiria investimentos entre US$ 338 e US$ 476 bilhões, de acordo com o Electric Power Research Institute (EPRI). O EPRI estima benefícios entre US$ 1,3 e US$ 2 trilhões. No entanto, o setor tem visto um gasto relativamente baixo e decrescente em P&D ao longo dos últimos anos. A boa notícia é que as tecnologias que acabarão por compor a rede inteligente não precisam ser empregadas ao mesmo tempo; a rede inteligente pode ser gradualmente implementada ao longo de anos, até décadas, com veículos de distribuição renovável a longo prazo. A abordagem é identificar e desenvolver sinergias entre essas tecnologias de componentes críticos. Definimos 15 iniciativas de soluções inteligentes críticas, cobrindo as salas de controle de rede, as soluções de subestação digital e a eletrônica de potência. As atividades de rede inteligente cobrem as tecnologias na cadeia de valor: eletrônica de potência incluindo os sistemas de HVDC, FACTS, conversores para renováveis, compensadores estáticos de VAr, além de STATCOMs (soluções de automação de subestação cobrindo toda a proteção e o controle para aplicativos de transmissão e distribuição, assim como TI da sala de controIe). Nosso objetivo é fornecer soluções inteligentes para diversas escalas geográficas, ecodistritos e microrredes através de cidades inteligentes até redes regionais e internacionais. No futuro, em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, as energias renováveis e os veículos elétricos precisarão ser integrados através de comunidades virtuais de energia para garantir que ela seja usada o mais próximo possível de seu local de produção – evitando o congestionamento nas redes de transmissão.
      A rede inteligente também se tornará uma espinha dorsal para a integração de futuros sistemas de transporte elétrico para permitir vazão bidirecional de energias entre infraestrutura de transporte e redes de concessionárias.
      Esses exemplos ilustram o fato de que a rede inteligente não trata apenas de medidores inteligentes, mas principalmente de comunicação em pontos anteriores do processo, automação e TI de gestão de energia.
      A rede inteligente pode ser desenvolvida gradualmente.

NORMAS: UM ELEMENTO VITAL
     
Além disso, as normas são cruciais para a integração de tantos tipos diferentes de equipamentos e usos entre várias entidades conectoras da rede - consumidores, veículos, prédios, parques renováveis. Elas também são essenciais para alcançar o retorno tecnológico sobre o investimento para as concessionárias. Um conjunto comum de normas para garantir a interoperabilidade entre a infraestrutura da rede inteligente gerará confiança do mercado nesses novos usos e estimulará o investimento das concessionárias.
      O tempo é um dilema. Se a normatização for prematura, ela poderia inibir a adoção de tecnologias posteriores; se ocorrer tarde demais, os custos de transição para a nova norma evitariam a disseminação da tecnologia em larga escala. Muito trabalho foi dedicado para a adoção da norma IEC; é importante complementá-la com novos usos de rede inteligente e acelerar a transição. No entanto, a interoperabilidade trará novas dificuldades. Embora os sistemas de controle de rede tenham ficado historicamente isolados da infraestrutura pública de TI, novos pontos de conexão com o cliente abrirão novos riscos para invasão digital. A segurança digital é então crítica para os futuros sistemas de rede.

AVANÇOS
     
As soluções de redes inteligentes tem sido aplicadas em redes de transmissão ao longo dos últimos anos e estão sendo expandidas em direção a novos usos de distribuição. As próximas etapas - projetos de grande escala integrais - envolverão todos os operadores e stakeholders do negócio de energia. O projeto Fenix é considerado pela Comissão Europeia como um primeiro passo nessa área. O projeto TWENTIES será um protótipo de ferramentas de gestão online de estabilidade e demonstrará tecnologias críticas necessárias para estabelecer uma rede de transmissão em toda a Europa, híbrida entre CD e CA, capaz de responder à crescente porção de renováveis até 2020. O projeto de rede inteligente Noroeste do Pacífico, nos EUA, testa novas tecnologias de central de controle de geração para otimizar o desempenho da infraestrutura da rede até os usuários finais residenciais.
      As redes inteligentes também afetarão a forma como negociamos energia quando interações em tempo real ocorrerem entre todos os responsáveis pela cadeia de valor.

EUROPA E RESTO DO MUNDO
NORMATIZAÇÃO DAS REDES INTELIGENTES

      O IEC definiu um Grupo Estratégico em rede inteligente em 2008. Ele produziu um mapa e uma lista de 100 normas de IEC relevantes, incluindo o IEC 61970 (CIM), IEC 61850 (Automação de Subestação) e IEC/TS 62351 (Segurança). O Instituto Nacional dos EUA de Normas e Tecnologia (NIST) emitiu um quadro de trabalho e mapa para normas de interoperabilidade das redes inteligentes. O IEEE tem trabalhado de perto com o NIST para desenvolver um mapa de normas e padrões de testes e certificação para a rede inteligente. A Comissão Europeia reconheceu a importância do desenvolvimento da rede inteligente ao futuro econômico da Europa. Ela estabeleceu uma força-tarefa de redes inteligentes e emitiu diversos mandatos para as organizações de normas europeias. O Instituto Europeu de Normas de Telecomunicação (ETSI) e o Comitê Europeu de Normatização Eletrotécnica (CEN/CENELEC) estão trabalhando juntos no Mandato M490 para cobrir as necessidades de redes inteligentes para todos os setores. Um primeiro con- junto de normas de redes inteligentes e uma arquitetura de referência estarão disponíveis no final de 2012.
      O NIST desempenha um dos principais papeis no desenvolvimento das redes inteligentes - ligando concessionárias, órgãos regulamentadores, fabricantes, consumidores e fornecedores de energia para desenvolver interoperabilidade. O processo de trabalho do NIST é liderado pelo Painel de Interoperabilidade de redes inteligentes (SGIP). O SGFAC oferece instruções a liderança do NIST para seu trabalho atual e futuro em redes inteligentes, incluindo os processos do SGIP.
      Em julho de 2011, o SGIP registrou as seis primeiras entradas em seu Catálogo de Normas, um guia para todos os envolvidos em tecnologias relacionadas a redes inteligentes. Em agosto de 2011, a Comissão Federal Regulatória de Energia (FERC) decidiu que não estabeleceria uma regra sobre as normas de redes inteligentes, mas encorajou os públicos de relacionamento a participarem do processo de interoperabilidade do NIST, que hoje é a base para desenvolver normas de interoperabilidade. Com este apoio da FERC, uma maior participação de concessionárias nas atividades do SGIP ajudará a obter os níveis adequados de "consenso" que devem ser adaptados e implementados pela indústria.
      O interesse em redes inteligentes tem crescido rapidamente no Brasil, e o país está desempenhando um papel ativo em diferentes iniciativas internacionais, sendo anfitrião de diversas grandes conferências sobre rede inteligente em 2012, inclusive a DistributechBrasil2012.


                                                                Artigo da revista GTD – energia elétrica, edição jul/ago 2012 por Ricardo Hering (Brasil), Dr Lawrence Jones (EUA) e Laurent Schmitt (França), da Alstom.